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Morrigan


"Morrigan, com seus longos cabelos vermelhos que voam
E o seu manto esfarrapado cor de sangue
Você ressoou em todo o campo de batalha no coaxar de um corvo
Glorificando no abate e banqueteando-se com os mortos."


Morrigan é a deusa ruiva da batalha irlandesa dos Tuatha de Danaan, disse ser uma das três filhas de Ernmas e o significado do seu nome é incerto.
Pode derivar de Mór Ríagan ['Grande Rainha'] ou Mór-Ríoghain ['Rainha dos Pesadelos'] ou Morrigu ['Rainha Fantasma'].
Ela é uma deusa tríplice incorporando os aspectos ["O Corvo"] Babd, ['Frenesi'] Nemain e Macha ['Batalha'].
A Morrigan dá o aviso de batalhas que vem, fica ao seu lado escolhido, e, finalmente, toma a forma de um corvo para
alimentar-se dos mortos nos campos de batalha. As cabeças dos mortos em batalha foram dedicados a ela.

Morrigan é a protetora da terra e também tem funções como uma deusa da agricultura e da irrigação. Uma série de baixas colinas conhecida
como a Paps de Morrighan é dedicado a ela. O Dagda ['Meu Deus'] descobriu na véspera do Samhain [Halloween], antes da Segunda Batalha de
Magh Tuiredh que ela estava em um rio, lavando a armadura sangrenta dos que estavam destinados a morrer.
Nesta posição, os dois se uniram, talvez indicando que a Morrigan tem aspectos tanto como uma deusa da morte quando da fertilidade.
Ela urinou um riacho que irrigava a terra.

É possível que ela era o original arauto da morte, o demônio da morte. Aqueles guerreiros que ouviam o canto das sereias de Morrigan
estavam destinados a morrer em combate.
Assim, sua música é um presságio de morte, como o gemido da Banshee.

Ela foi implacável e sem piedade, mas ela gostava de se acasalar com os deuses e os homens humanos, e poderia aparecer como uma mulher
bonita quando ela escolhia. O poderoso herói animado Cuchulain cedeu á sua luxúria ao vê-la lavar-se, nua na beira do rio.
Ela vestiu suas melhores roupas e um glamour tão maravilhoso que ela brilhava como o sol, aproximando-se do guerreiro e
convidando-o para dormir com ela. Ele balançou a cabeça, dizendo que ele estava muito cansado do combate do dia.
Ela respondeu que poderia ajudá-lo na batalha, e assim salvar a sua força para coisas mais interessantes, mas ele rindo desprezou a ajuda de uma mulher.
E foi isso que despertou sua ira e a partir de então, ela era sua inimiga implacável e determinada a levar a sua queda.

Então Cuchulain observou, uma carroça se aproximando, puxada por um cavalo brilhante vermelho que andava sobre três pernas.
Junto com ela, entrou um pajem segurando uma varinha de aveleira bifurcada. No vagão havia uma mulher com cabelos brilhantes como chamas vermelhas,
vestindo uma capa vermelha. O vermelho é associado à morte e o submundo em mitos celtas, e esta aparição da Morrigan em vermelho foi um presságio
da morte de Cuchulain. De repente, tudo desapareceu, exceto a mulher, que se tornou um grande pássaro preto, e voou para longe.

No dia seguinte, no campo de batalha, a Morrigan assumiu a forma de uma novilha vermelha sem chifres, o que causou confusão entre os homens e
Cuchulain deu uma vantagem ao inimigo. Cuchulain era forçado em um riacho, e Morrigan se transformou em uma enorme enguia preta, e torceu-se
sobre o corpo Cuchulain, de modo que ele quase caiu. Assim, quando ele estava prestes a desvenciliar-se, ela transformou-se em um lobo selvagem.
A Morrigan não conseguiu lutar contra ele á sua própria maneira, e então, teve que se retirar da disputa ferida.

Sabendo que ela deveria ser curada por aquele que havia á ferido, ela se disfarçou como uma mulher velha com um balde de ordenha, sentada com uma vaca
vermelha ao lado da estrada onde Cuchulain deveria passar, á caminho de casa. Quando ele apareceu, ela ofereceu-lhe um copo de leite, e ele tomou-o,
dando uma bênção para a bruxa. Ela deu-lhe um segundo copo, e novamente ele bebeu, oferecendo uma segunda bênção. Uma terceira vez ele esvaziou o
leite no copo, e ofereceu uma terceira bênção. Esta bênção tríplice completou a cura e a Morrigan se transformou em um corvo, encontrando-se no ar como
um corvo zombeteiro. Ela empoleirou sobre um espinheiro e profetizou a sua morte.

Cuchulain encontrou seu fim depois de ser forçado por três bruxas (a Morrigan em seu aspecto triplo) para quebrar seu Geis e comer carne de cão.
Ela observou que ele estava morrendo, e banqueteou do seu sangue.

Pequeno glossário de termos e Deuses da mitologia nórdica / celta

ALBERICH: anão da raça dos nibelungos que roubou o Ouro do Reno das ninfas e
forjou o anel de poder. Pai de Hagen.
ALFHEIM: terra dos elfos felizes, situada próxima a Asgard, morada dos deuses.
ANDARILHO: disfarce utilizado por Wotan para percorrer o mundo.
ANEL: objeto mágico forjado por Alberich que desperta a cobiça de deuses e
homens.
ANÕES: também chamados de Nibelungos, vivem em seu país situado abaixo da
terra.
ÁRVORE DA VIDA: também chamada de Yggdrasil, é o grande freixo que está
situado no meio do mundo.
ASGARD: a morada dos deuses, construída por Wotan.
ASK: o primeiro homem, criado a partir de um pedaço de tronco.
AUDHUMLA: a vaca primordial que surgiu junto com o gigante Ymir.
BERGELMIR: filho do gigante Thrudgelmir, deu origem à descendência dos gigantes
que habitaria Jotunheim, a terra dos gigantes.
BESTLA: giganta, casou-se com Bor e deu origem aos três primeiros deuses do
panteão nórdico: Wotan (ou Odin), Vili e Ve.
BIFROST: a ponte do arco-íris que liga o mundo dos mortais a Asgard, o lar dos
deuses.
BOR: filho de Buri, foi pai de Wotan, Vili e Ve, as primeiras divindades.
BRUNHILDE: filha de Wotan e de Erda, era uma das Valquírias. Após desobedecer
ao pai foi punida com a perda desta condição, tornando-se uma mortal comum.
BURI: antepassado dos deuses, veio ao mundo quando a vaca Audhumla lambeu o
gelo de um iceberg até que ele surgisse.
CREPÚSCULO DOS DEUSES: o fim do mundo, época em que os deuses deixarão
de existir. Também chamada de Ragnarok. A versão relatada, aqui, difere muito daquela
consagrada nos mitos nórdicos, que a apresenta como uma grande batalha apocalíptica
travada entre deuses e gigantes.
DRAGÃO: monstro que guarda o anel e o tesouro dos nibelungos. Originariamente,
era o gigante Fafner que, graças ao mágico elmo de Tarn, pôde se metamorfosear no
temível dragão que o herói Siegfried termina por abater em um sangrento duelo.
EINHERIAR: os guerreiros mortos recolhidos pelas Valquírias que farão parte do
exército de Wotan e que estão reunidos no palácio do Valhalla.
ELFOS: criaturas de grande virtude moral que surgiram da carne de Ymir, gigante
abatido por Wotan e seus irmãos. Originariamente, eram vermes, tais como os anões.
ELMO DE TARN: elmo mágico fabricado pelo anão Mime, que dá a quem o possui o
poder de se locomover, rapidamente, de um lugar para o outro, além de se
metamorfosear em qualquer ser.
EMBLA: a primeira mulher que surgiu de uni tronco de árvore, a exemplo de Ask, o
primeiro homem.
ERDA: divindade da terra, amante de Wotan. Era a deusa da sabedoria e mãe de
Brunhilde e de todas as Valquírias.
FAFNER: um dos gigantes que construíram o Valhalla. Mais tarde, transformou-se
em um dragão para proteger o anel que recebera como pagamento pela obra.
FASOLT: irmão de Fafner, era gigante como este. Foi morto pelo irmão, após ter
construído com ele o Valhalla, durante uma discussão pela posse do anel.
FLOSSHILD: uma das ninfas do Reno que protegiam o ouro ali escondido.
FREYA: deusa do amor e da juventude, foi entregue por Wotan aos gigantes Fafner
e Fasolt como garantia pelo pagamento da construção do Valhalla.
FRICKA: esposa de Wotan, deusa do casamento e da fidelidade.
GIBICH: fundador do clã dos Gibichungs, era pai de Gunther e Gutrune.
GIBICHUNGS: família que protagoniza alguns dos episódios mais importantes do
"Crepúsculo dos Deuses", era composta pelos irmãos Gunther e Gutrune.
GIGANTES: raça criada a partir do gigante Ymir. Na história do Anel, são apenas
dois: Fafner e Fasolt.
GINNUNGAGAP: o abismo vazio que existia antes de o mundo ser formado.
GLADSHEIM: o magnífico palácio de Wotan, instalado em Asgard.
GRIMGERDE: uma das nove Valquírias.
GRIMHILDE: esposa de Gibich, vendeu-se a Alberich, o nibelungo, para que este
pudesse gerar o ambicioso Hagen, meio-irmão de Gunther e Gutrune.
GUNGNIR: a lança de Wotan, onde o deus registra todos os seus acordos. Termina
partida por Siegfried num duelo que o deus mantém com seu neto, sendo derrotado por
este, simbolizando, ao mesmo tempo, o declínio da velha divindade.
GUNTHER: irmão de Gutrune, deseja casar-se com Brunhilde. Para isso, arma uma
trama com Siegfried, que termina com funestas conseqüências para todos.
GUTRUNE: irmã de Gunther, deseja casar-se com Siegfried, mas vê seus objetivos
frustrados após a morte do herói, assassinado traiçoeiramente por Hagen, filho de
Alberich e meio-irmão de Gutrune.
HAGEN: filho do nibelungo Alberich, transforma-se no carrasco de Siegfried para
poder se apossar do anel.
HEIDRUN: cabra que fornecia o hidromel, a bebida dos deuses, aos habitantes do
Valhalla.
HEIMDALL: vigia que guardava a ponte Bifrost, que ligava o mundo mortal a Asgard.
Estava sempre munido de uma trompa para anunciar aqueles que por ela atravessassem.
HEL: deusa infernal, filha de Loki. Comandava o reino dos mortos.
HLIDSKIALF: o trono mágico de Wotan. Dali ele podia observar tudo quanto se
passava nos Nove Mundos.
HUGIN: um dos corvos mensageiros de Wotan. Seu nome significa "Pensamento".
HUNDING: marido de Sieglinde, termina por matar o irmão da esposa, Sigmund,
num duelo. Wotan, em seguida, pune-o também com a morte.
IDAWOLD: planície situada acima da terra que abrigava Asgard, a morada dos
deuses.
IFFING: o rio que separava Idawold, a planície que abrigava Asgard, do restante do
universo.
JOTUNHEIM: a terra dos Gigantes. Bergelmir e sua esposa, únicos gigantes
sobreviventes de um massacre promovido por Wotan e os demais deuses, foram lá
buscar refúgio, acabando por fazer de Jotunheim o novo lar dos gigantes.
LERAD: árvore mágica, cujas folhas alimentavam a cabra Heidrun, fornecedora do
hidromel aos guerreiros do Valhalla.
LOKI: filho de gigantes, era o mais esperto e ladino dos deuses. Também assume a
persona de deus do fogo, a partir da segunda parte da tetralogia do Anel dos Nibelungos.
MIDGARD: ou Terra-Média, era a morada dos mortais, construída por Wotan e seus
irmãos no começo dos tempos.
MIME: irmão de Alberich, é um nibelungo como ele. Pai de criação de Siegfried,
termina morto por este ao tentar assassiná-lo para se apoderar do anel que este
conquistara do dragão Fafner.
MIMIR: gigante cuja cabeça reside às margens do rio da
sabedoria. Exigiu que Wotan lhe desse um de seus olhos para deixá-lo beber da fonte.
MUNIN: um dos corvos mensageiros de Wotan. Seu nome significa "Memória".
MUSSPELL: reino primordial do fogo, que havia antes da Criação.
NIBELUNGOS: raça de anões escuros que vivem embaixo da terra, no País dos
Nibelungos.
NIDAVELLIR: outra denominação da morada dos anões.
NIDHOGG: serpente venenosa que habita o Niflheim, região sombria dominada pela
sinistra deusa Hei.
NIFLHEIM: morada dos mortos e das névoas geladas, habitada por Hei.
NORNAS: filhas de Erda, são em número de três e tecem o fio da vida e da morte.
Eqüivalem às Moiras gregas ou às Parcas dos latinos.
NOTUNG: a espada invencível forjada por Wotan, que Siegfried reforjou junto com o
anão Mime.
ODIN: outra denominação (mais popular) que se dá a Wotan, pai dos deuses.
OURO DO RENO: tesouro escondido nas profundezas do Reno, guardado por três
ninfas, que o anão Alberich rouba para forjar o Anel de Poder.
RAGNAROK: o mesmo que
o "Crepúsculo dos Deuses", época apocalíptica na qual os deuses deixarão de existir
após uma conflagração universal.
RATATOSK: esquilo que percorre os galhos da Arvore da Vida, levando recados
desaforados que a águia transmite à serpente Nidhogg e vice-versa.
ROSSWEISE: uma das nove Valquírias, filhas de Wotan e Erda.
RUNAS: alfabeto nórdico que teria propriedades mágicas. Wotan esteve por nove
noites preso à Arvore da Vida para obter os segredos mágicos que as runas podem
transmitir aos seus iniciados.
SAEHRIMNIR: o javali gigante que os guerreiros do Valhalla devoram todas as
noites, mas que renasce sempre no dia seguinte, intacto, para ser devorado outra vez.
SCHWERTLEITE: uma das nove Valquírias, filhas de Wotan.
SIEGFRIED: filho de Sigmund e de sua irmã Sieglinde, era neto de Wotan. Libertou
Brunhilde de seu confinamento num rochedo cercado de chamas e enfrentou o dragão
que guardava o Anel de Poder. Morreu pelas mãos traiçoeiras de Hagen, filho do
nibelungo Alberich.
SIEGLINDE: filha de Wotan e irmã de Sigmund, teve um romance com o próprio
irmão, do qual surgiu Siegfried, o maior herói da saga germânica do Anel.
SIEGRUNE: uma das Valquírias.
SIGMUND: filho de Wotan, era irmão de Sieglinde e foi morto pelo esposo dela,
Hunding, em um duelo. Era pai de Siegfried.
SKULD: uma das três Nornas, deusas que presidem o destino. Tinham o dom de
prever o futuro.
SLEIPNIR: o cavalo de oito patas de Wotan, o cavalo mais veloz do universo.
SVARTALFHEIM: a morada dos gnomos (ou elfos sombrios), que está situada nas
profundezas da terra.
THRUDGELMIR: gigante nascido das pernas do gigante primordial Ymir. É um dos
mais antigos ascendentes da estirpe dos Gigantes.
URD: uma das Nornas, deusas do destino, que tem o conhecimento do passado.
URDAR: o poço cujas águas as Nornas, deusas do destino, usavam para regar em
Asgard umas das raízes de Yggdrasil, o Freixo do Mundo.
VALHALLA: a morada dos guerreiros mortos recolhidos pelas Valquírias nos
campos de batalha. Wotan ordenou que dois gigantes (Fafner e Fasolt) a construíssem,
prometendo-lhes em troca Freya, irmã de sua mulher e deusa da juventude.
VALQUÍRIAS: filhas de Wotan e de Erda, deusa subterrânea, eram deusas
guerreiras e tinham por função recolher os combatentes mortos e os levar para os salões
do Valhalla. A mais famosa delas foi Brunhilde.
VANAHEIM: morada dos Vanes (ou Vanires), deuses de hierarquia menor, em
oposição aos Aesir, deuses superiores, liderados por Wotan.
VE: uma das duas divindades que surgiram junto com Wotan e que o ajudaram a
construir o mundo.
VILI: divindade irmã de Wotan e Ve, que ajudou-os a construir os diversos reinos do
mundo, como Midgard, terra dos mortais; e Asgard, a morada dos deuses.
WALSUNGS: denominação pela qual são conhecidos os descendentes de Wotan,
tais como os irmãos Sigmund e Sieglinde, pais de Siegfried.
WALTRAUTE: irmã de Brunhilde, uma das nove Valquírias, filhas de Wotan e Erda.
WELLGUNDE: uma das ninfas do Reno que protegiam o Ouro do Reno.
WELMWIGE: uma das nove Valquírias, deusas guerreiras, filhas de Wotan.
WERDANDI: uma das Nornas, deusas que presidem o destino. Era encarregada do
presente.
WOGLINDE: umas das ninfas do Reno, que permitiram ao anão Alberich apossar-se
do ouro que tinham por missão preservar.
WOTAN: deus supremo do panteão nórdico, mais conhecido pela denominação de
Odin. Era pai de Brunhilde e das demais Valquírias.
YGGDRASIL: o freixo gigante que recobre o mundo. Wotan retirou um de seus
galhos para fazer sua lança Gungnir.
YMIR: gigante primordial, surgido da junção das névoas geladas de Niflheim e do
calor da tórrida região de Musspell.

O mito nórdico da criação

Primeiro, havia o Caos, que era o Nada do Mundo, e isto era tudo quanto nele
havia. Nem Céu, nem Mar, nem Terra - nada disto havia. Apenas três reinos coexistiam: o
Ginnungagap (o Grande Vazio), abismo primitivo e vazio, situado entre Musspell (o Reino
do Fogo) e Niflheim (a Terra da Neblina), terra da escuridão e das névoas geladas.
Durante muitas eras, assim foi, até que as névoas começaram a subir lentamente das
profundezas do Niflheim e formaram no medonho abismo de Ginnungagap um gigantesco
bloco de gelo.
Das alturas abominavelmente tórridas do Musspell, desceu um ar quente e este
encontro do calor que descia com o frio que subia de Niflheim começou a provocar o
derretimento do imenso bloco de gelo. Após mais alguns milhares de eras - pois que o
tempo, então, não se media pelos brevíssimos anos de nossos afobados calendários - o gelo foi derretendo e pingando e deixando entrever, sob a outrora gelada e espessa capa
branca, a forma de um gigante.
Ymir era o seu nome - e por ser uma criatura primitiva, dotada apenas de instintos, o
maniqueísmo batizou-a logo de má. Ymir dormiu durante todas estas eras, enquanto o
gelo que o recobria ia derretendo mansamente, gota à gota, até que, sob o efeito do calor
escaldante de Musspell, que não cessava jamais de descer das alturas, eis que ele
começou a suar. O suor que lhe escorria copiosamente do corpo uniu-se, assim, à água
do gelo, que brotava de seus poderosos membros - e este suor vivificante deu origem aos
primeiros seres vivos. Debaixo de seu braço surgiu um casal de gigantes e da união de
suas pernas veio ao mundo outro ser da mesma espécie, chamado Thrudgelmir. Estes
três gigantes foram as primeiras criaturas, que surgiram de Ymir; mais tarde, Thrudgelmir
geraria Bergelmir, que daria origem à toda a descendência dos gigantes.
Entretanto, do gelo derretido também surgira, além das monstruosidades já citadas,
uma prosaica vaca de nome Audhumla, de cujas tetas prodigiosas manavam quatro rios,
que alimentavam o gigante Ymir. Audhumla nutria-se do gelo salgado, que lambia
continuamente da superfície, e, deste gelo, surgiu ao primeiro dia o cabelo de um ser; no
segundo, a sua cabeça; e, finalmente, no terceiro, o corpo inteiro. Esta criatura egressa
do gelo chamou-se Buri e foi a progenitora dos deuses. Seu primeiro filho chamou-se Bor,
e, desde que pai e filho se reconheceram, começaram a combater os gigantes, que
nutriam por eles um ódio e um ciúme incontroláveis.
Esta foi a primeira guerra de que o universo teve notícia e incontáveis eras
sucederam-se sem que ninguém adquirisse a supremacia. Finalmente, Bor casou-se com
a giganta Bestla e, desta união, surgiram três notáveis deuses: Wotan (também chamado
Odin), Vili e Ve. Dos três, o mais importante é Wotan, que um dia chegará a ser o maior
de todos os deuses. E, porque assim será, um dia, ele próprio disse a seus irmãos:
- Unamo-nos a Bor e destruamos Ymir, o perverso pai dos gigantes!
Os quatro juntos derrotaram, então, o poderoso gigante, e com sua morte, acabou
também a quase totalidade dos demais de sua espécie, afogada no sangue de Ymir. Um
casal, entretanto, escapou do massacre: Bergelmir e sua companheira, que construíram
um barco feito de um tronco escavado e foram se refugiar em Jotunheim, a terra dos
Gigantes, onde geraram muitos outros. Desde então, a inimizade estabeleceu-se,
definitivamente, entre deuses e gigantes, cada qual vivendo livremente em seu território,
mas sempre alerta contra o inimigo.
Dos restos do cadáver do gigantesco Ymir, Wotan e seus irmãos moldaram a
Midgard (Terra-Média): de sua carne, foi feita a terra; enquanto que, de seus ossos e seus
dentes, fizeram-se as pedras e as montanhas. O sangue abundante de Ymir correu por
toda a terra e deu origem ao grande rio que cerca o universo.
- Ponhamos, agora, a caveira de Ymir no céu - disse Wotan a seus irmãos, após
haverem completado a primeira tarefa.
Wotan fez com que quatro anões mantivessem a caveira suspensa nos céus, cada
qual colocado num dos pontos cardeais. Em seguida, das faíscas do fogo de Musspell,
brotaram o sol, a lua e as estrelas; enquanto que, do cérebro do gigante, foram
engendradas as nuvens, que recobrem todo o céu.
Entretanto, após terem remexido a carne do gigante, com a qual moldaram a terra,
os três deuses descobriram nela um grande ninho de vermes. Wotan, penalizado destas
criaturas, decidiu dar-lhes, então, uma outra morada, que não, o Midgard. Os seres
subumanos, que pareciam um pouco mais turbulentos que os outros, foram chamados de
Anões e receberam como morada as profundezas sombrias da terra (Svartalfheim). Os
demais, que pareciam ter um modo mais nobre de proceder, foram chamados de Elfos e
receberam como morada as regiões amenas do Alfheim.
Completada a criação de Midgard, caminhavam, um dia, Wotan e seus irmãos sobre
a terra para ver se tudo estava perfeito, quando encontraram dois grandes pedaços de
troncos caídos ao solo, próximos ao oceano. Wotan esteve observando-os longo tempo,
até que, afinal, teve outra grande idéia:
- Irmãos, façamos de um destes troncos um homem e do outro, uma mulher! E
assim se fez: ele foi chamado de Ask (Freixo) e ela, de Embla (Olmo). Wotan lhes deu a
vida e o alento; Vili, a inteligência e os sentimentos; e Ve, os sentidos da visão e da
audição. Este foi o primeiro casal, que andou sobre a terra e originou todas as raças
humanas que habitariam por sucessivas eras a Terra-Média. Depois que Midgard e os
homens estavam feitos, Wotan decidiu que era preciso que os deuses tivessem também
uma morada exclusiva para si:
- Façamos Asgard e que lá seja o lar dos deuses! - exclamou ele, que, como se vê,
era um deus de energia e vontade inesgotáveis.
Este reino estava situado acima da elevada planície de Idawold, que flutuava muito
acima da terra, impedindo que os mortais o observassem. Além disso, um rio cujas águas
nunca congelavam - o Iffing - separava a planície do restante do universo. Mas, Wotan,
sábio e poderoso como era, entendeu que não seria bom se jamais existisse um elo de
ligação entre deuses e mortais. Por isso, determinou que fosse construída a ponte Bifrost
(a ponte do Arco-íris), feita da água, do logo e do mar. Heimdall, um estranho deus
nascido ao mesmo tempo de nove gigantas, ficaria encarregado, desde então, de vigiá-la
noite e dia para que os mortais não a atravessassem livremente no rumo de Asgard. Para
isso, ele portava unia grande trompa, que fazia soar todas as vezes que os deuses
cruzavam a ponte.
A morada dos deuses possuía várias residências, as quais foram sendo ocupadas
pelos deuses à medida que iam surgindo. O palácio de Wotan, o mais importante de
todos, era chamado de Gladsheim. Ali, o deus supremo linha instalado o seu trono
mágico, Hlidskialf, de onde podia observar tudo o que se passava nos Nove Mundos e
receber de seus dois corvos, Hugin (Pensamento) e Muniu (Memória), as informações
trazidas das mais remotas regiões do universo.
Entretanto, se na mais alta das regiões estava situado o paraíso daquele soberbo
universo, nas profundezas da terra, muito abaixo de Midgard, estava o Niflheim, o horrível
e gelado reino dos mortos. Lá pontificava a sinistra deusa ú, filha de Loki, que se regozija
Com a fome, a velhice e a doença, e que tem i lado a serpente Nidhogg. Esta se alimenta
dos cadáveres dos mortos e se dedica a roer continuamente uma das raízes da grande
árvore Yggdrasil, um freixo gigantesco que se eleva por cima do mundo e deita suas
raízes nos diversos reinos, entre os quais, o próprio Asgard. Ao alto da copa frondosa
desta imensa árvore, sobrevoa uma gigantesca águia, que vive em guerra aberta contra a
serpente Nidhogg. Um pequeno esquilo - Ratatosk -, que passa a vida a correr desde o
alto da Árvore da Vida até as profundezas onde está a terrível serpente, é o leva-traz dos
insultos que estas duas criaturas se comprazem em trocar sem jamais esgotar seu infinito
estoque de injúrias.
Nesta árvore fundamental, diz a lenda que o próprio Wotan esteve pendurado
durante nove longas noites, com uma lança atravessada ao peito, para que pudesse
aprender o significado oculto das Runas, o alfabeto nórdico, que rege e governa a vida
dos deuses e dos homens. Quando seu martírio terminou, Wotan havia se tornado,
definitivamente, o mais poderoso e sábio dos deuses, tendo o poder de curar doenças e
de derrotar os inimigos com sua poderosa lança, Gungnir - ao mesmo tempo, sua mais
poderosa arma e local de registro de todos os seus acordos.
Yggdrasil é o centro do mundo, e, enquanto suas raízes continuarem a suportar o
peso de seu prodigioso tronco e de seus ramos infinitos, o mundo estará firme e a vida
será soberana, sob os auspícios de Wotan, senhor dos deuses.

ST. PATRICK e Os druidas DA IRLANDA


Patrick era um sacerdote cristão, cujo trabalho era converter a
população da Irlanda ao cristianismo. Os druidas, contudo, permaneciam
em seu caminho. Os druidas eram pessoas muito importantes na Irlanda.
Nessa altura, o seu símbolo era a serpente da Sabedoria.Os Druidas podiam
ser sacerdotes da antiga religião da Irlanda, mas também havia muito mais.

Uma parte da classe Druida eram os "Bardos".
Os celtas irlandeses não dependiam de uma escrita ou
linguagem, tudo tinha de ser memorizado.Os Bardos eram poetas e
músicos, e usavam a música e a poesia para ajudá-los a lembrar a sua
história exatamente. Devido a isso, os bardos eram membros muito respeitados
da sociedade irlandesa. Os irlandeses acreditavam que a história era
muito importante, pois se você não se lembrar do que tinha acontecido no
passado, não poderia planejar com segurança o futuro. Os Bardos, portanto,
realizavam o futuro das pessoas.

Outra parte importante da classe druídica eram os "Brehons".
Brehons foram os juízes e os detentores de Leis. Entre os Celtas,
as pessoas tinham uma sociedade altamente complexa e, com isso, desenvolveram um grande
conjunto de leis.Os Brehons eram treinados por muitos anos para aprenderem as
legislações dos povos, de modo que sempre que houve uma disputa, os Brehons
poderiam razoavelmente decidir a questão e fazer a paz. As leis eram para
que todos, homens, mulheres e crianças, fossem tratados de forma justa
e com respeito. Por causa da sabedoria que o Brehons realizavam, e
o conhecimento das leis da sociedade, também eles, como os bardos,
foram tratados com muito respeito.

E, claro, havia os sacerdotes druidas. Os Druidas eram os guardiões do conhecimento da Terra e dos Espíritos.
Sua responsabilidade era de aprender sobre o Mundo Espiritual, a fim de
manter as pessoas e a terra em harmonia.Os Sacerdotes realizavam os casamentos
e o "batismo"; eram curandeiros e psiquiatras.
Eles eram os sábios a quem você poderia ir com um problema.
Eles estavam lá para ajudá-lo a resolvê-los, com a ajuda da Terra e
o Espírito do Mundo.

Dentro deste mundo dos celtas irlandeses entrou altamente energético e
devotado o sacerdote cristão chamado Patrick. Porque ele acreditava tão
fortemente nos princípios do cristianismo, pensou que quem
não era cristão tinha de se tornar um para ser "salvo". Ele foi
para a Irlanda para converter o povo irlandês ao cristianismo.

O povo irlandês naquele momento estava feliz e vivendo muito bem
sem Patrick e suas idéias, mas ele foi persistente. Notou
que os druidas eram realmente as pessoas importantes da sociedade. Ele
pensou que se pudesse converter os druidas ao cristianismo, o
resto do povo iria seguir. Para Patrick o principal problema era que
os druidas eram muito confortáveis com o que já tinha aprendido,
e não estavam dispostos a mudar.Os Druidas passaram toda a sua vida
aprendendo os caminhos do povo, e foram as últimas pessoas que estavam dispostas a mudar.

Embora Patrick não estava disposto a abandonar sua visão de um
Cristão na Irlanda, ele estava ficando desesperado. Ele sabia que, devido
a força do povo a favor dos druidas, ele tinha de se livrar
deles, a fim de levar as pessoas a ouvi-lo.

Patrick não estava sozinho em seus esforços. Ele tinha trazido muitas pessoas
com ele da Grã-Bretanha para estabelecer a nova religião. Patrick começou
para destruir a influência dos druidas, destruindo o sagrado
lugar das pessoas e iniciando a construção de igrejas e mosteiros, onde os
Druidas viviam e ensinavam. Aos poucos, o poder dos druidas
foi quebrado por uma campanha amarga de atrito. Em vez de
ouvir os ensinamentos e conselhos dos druidas, as pessoas começaram a
ouvir os ensinamentos de Roma. Como os druidas eram os únicos
que foram ensinados a se lembrar da história, com os Druidas mortos
sua influência foi quebrada, e a sua história foi esquecida.

Patrick ganhou. Ao matar os professores e os sábios, a sua própria
religião poderia ser ensinada. Por esta conversão em massa de uma cultura de
Cristianismo, e para a morte de milhares de pessoas inocentes,
Patrick foi feito um santo pela Igreja.

Hoje a história é contada que Patrick é o padroeiro da Irlanda
porque ele "levou as cobras para fora". Sabemos agora que as "cobras"
eram os druidas. Então, embora os pagãos amem o povo irlandês e comemorem
sua herança celta, não comemoram um dia dedicado ao
homem chamado Patrick, padroeiro da Irlanda.

Elfo


O Elfo ou alf foi derivado de origem teutônica. Descrição dos elfos varia de autor para autor e de um período para outro. Os elfos foram introduzidos no folclore celta, na tradição posterior.

De acordo com os mitos nórdicos, há dois grupos ou tribos de elfos.

O elfo da Luz, conhecido como ljásálfar, vivia no mundo chamado Alfheim, que o deus Vanir Freyr governou. Os elfos luminosos foram vistos como justo. O outro grupo de elfos foram os elfos-escuros, Dökkálfar, vivendo em Nidavellir, ou elfos negros, svartálfar, vivendo no mundo chamado Svartalfheim. Parecia haver uma diferença entre o elfos escuros e elfos negros. Os elfos negros foram descritos com pele - preto como a noite - e eles eram curtos como os anões. Os elfos escuros como os anões eram conhecidos por sua invenção e arte.

Para a tradição nórdica, os elfos eram espíritos ou divindades menores da floresta ou do agregado familiar. No folclore germânico mais tarde, os elfos tinham mudado - tornando-se diminutos no tamanho, como a contrapartida Celta das fadas.

Foi esta tradição como espíritos domésticos, que os elfos foram posteriormente dados em tradições folclóricas germânicas e célticas. A coisa mais próxima que o povo celta tinha eram os elfos ellyll da tradição galesa.

Eles eram curtos ou pequenos, e pode ser visto como benevolente se satisfeito, por isso eles iriam cuidar da casa, fazendo tarefas da noite. Se eles se sentiam ofendidos podiam tornar-se maléficos, interrompendo o serviço da casa, quebrando pratos, derramando o leite, mantendo os ocupantes acordados durante a noite com seus ruídos, afugentando animais.

Esses elfos eram denominados kobold no folclore germânico, ou no folclore gaélico escocês como o brownie.

Pooka- A fada



Pooka ou puca foi uma forma de Fada. Dependendo dos autores, a Pooka ou foi benevolente ou malévola. Era muitas vezes identificada com pwca da tradição galesa.

Segundo Yeats, a quem ele listou TC Croker como uma de suas fontes, a Pooka ou foi maldosa ou mal intencionadas, muitas vezes tomando a forma de cavalo, oferecendo aos Viajantes desavisados um passeio que era perigoso se não mortal.
Yeats diz que Lady Wilde acreditava que a Pooka foi benevolente e útil como o brownie escocês.

Elas apareceram com mais freqüência em Novemeber Eve (noite de 31 de outubro), que é Véspera de Samhain (ou o Halloween moderno), em que a Pooka iria estragar a torta de amoras.

Angus Mac Oc

Angus Mac Oc , cujo nome significa O Filho Mais Jovem, era filho de Dagda e Boann e fazia parte dos Tuatha de Dannan. Também é conhecido por Aengus ou Oengus e era, para os Celtas da Irlanda antiga, um deus da juventude, do amor e da beleza. Possuía uma harpa dourada que produzia uma música de irresistível doçura e dizia-se que os seus beijos se transformavam em pássaros que transportavam as mensagens de amor.
Uma das lendas conta que Angus se apaixonou por uma jovem que apenas viu em sonhos. Decidido a encontrá-la acaba por descobrir que é filha de Ethal Anbuais, um Sidh que morava em Connaught. Angus acaba por encontrar a sua amada perto de um lago como sendo a mais alta de um grupo de 150 jovens. Ethal conta a Angus que a sua filha é vítima de um encanto que faz com que ela se transformasse em cisne a cada dois anos (durante um ano permanecia mulher e durante o ano seguinte permanecia cisne). Assim, para poder desposá-la, Angus precisava transformar-se em cisne, durante a noite do próximo Samhain. Assim foi, nessa data, Angus deslocou-se ao lago onde se encontrava a sua amada. Ao mesmo tempo que sua futura esposa se transformava em Cisne, juntamente com as restantes jovens, também Angus se transfigurou num belo cisne. Os dois, juntos, voaram então, ao redor do lago por três vezes, cantando uma melodia que fez o mundo adormecer por três dias e três noites

O Destino dos Filhos de Lir


Os cinco reis da Irlanda reuniram-se um dia para eleger, dentre eles, um grande rei de Erin. Os seus nobres escolheram Dearg, filho de Daghda, por ser o filho mais velho de um druida altamente respeitado. Contudo, o rei Lir deixou a reunião real muito irritado, pois esperara para si próprio essa alta distinção.

Os outros reis quiseram cavalgar atrás dele e feri-lo com a espada e com a lança devido à sua traição, mas Dearg deteve-os. De forma a manter a paz, disse: faremos dele nosso parente, dando-lhe a saber que pode escolher para esposa uma das três lindas filhas de Oilell de Aran, meu próprio filho adotivo.

Foram enviados mensageiros para a colina de White Field, onde o rei Lir tinha a sua corte. Este aceitou a oferta e, no dia seguinte, partiu com cinquenta carroças para o lago do Olho Vermelho, perto de Killaloe. O rei Dearg estava lá à sua espera, juntamente com as três filhas de Oille. Toma a donzela que desejares, qualquer que seja, disse Dearg.

Não posso decidir qual delas é a mais bonita, responder Lir, e por isso, levarei a mais velha, pois ela é a mais nobre. A donzela Ove é a mais velha das três, e é tua se assim o desejas, disse Dearg.

Lir regressou à colina de White Field, com Ove como sua noiva. Pouco tempo depois nasceram uma filha e um filho gêmeos, Fingula e Aod eram os seus nomes. Mais dois filhos se seguiram, Fiachra e Conn, mas o nascimento deles levou à deplorável morte de Ove. Contudo, Lir amara ternamente a sua mulher e o seu coração não teria resistido se não fosse o igual amor que sentia pelos seus quatro filhos.

Quando recebeu a notícia, o rei Dearg sentiu muito a dor de Lir, pelo que enviou mensageiros para lhe oferecer a mão de Oifa, irmã de Ove, como segunda esposa. Casaram e viveram felizes durante algum tempo. Porém, Oifa começou a ter ciúmes das crianças, que eram amadas por toda a gente. Assim, levou-as a passear de carroça, tendo em mente intentos perversos. Fingula resistiu, pois na noite anterior, sonhara coisas terríveis a respeito da sua madrasta; porém o seu destino estava marcado e ela entrou na carroça.
Os cinco chegaram ao lago dos Carvalhos. Dar-vos-ei aquilo que mais desejarem neste mundo, gritou Oifa para a gente que ali habitava, se matarem os quatro filhos de Lir. Todavia, ninguém quis nada com ela. Então, disse às crianças que fossem nadar no lago, lançando-lhes um encantamento com uma varinha que um druida lhe oferecera certa vez. E enquanto apontava a varinha, cantou as palavras mágicas por sobre as águas e lançou correntes de prata, que se enrolaram nos pescoços das crianças:

Nas águas selvagens, real Progênie de Lir!
Para todo o sempre os vossos
Gritos ficarão perdidos entre as aves.
As quatro crianças começaram imediatamente a ficar cobertas de penas macias e, em breve, se tornaram lindos cisnes da mais pura brancura.
Fingula cantou: Conhecemos-te por aquilo que és, mulher bruxa!
Tens poderes para nos fazer nadar no lago,
Ainda que possamos descansar em terra quando quisermos;
Nós seremos acariciados, mas tu serás censurada.
Embora nos vejas agora sobre as ondas,
Os nossos espíritos estão a caminho de casa.

Retira a maldição que sobre nós lançaste, gritou Fingula. Nunca! Exclamou Oifa, rindo. Não até que Lairgnen de Connaught case com Deoch de Munster e as mulheres do Sul se unam aos homens do Norte. Durante novecentos anos terão de sulcar os lagos e rios de Erin e ninguém será capaz de retirar o meu encantamento. Uma coisa vos concedo: conservarão a fala do homem e nenhum homem ou animal ouvirá o vosso áspero cantar. Disse isto sem qualquer remorso; depois cantou:

As nossas saudações ao grupo de cavaleiros
Que se aproxima do lago do Olho Vermelho,
Estes não são homens de encantamento e podem
Procurar tirar-nos das águas.
Então dirijam-se para a margem, irmãos Aod,
Fiachra e formoso Conn,
Pois estes não são cavaleiros estranhos
Mas nosso pai, o rei Lir, e os seus homens.

Lir ouviu as maravilhosas vozes humanas dos cisnes e perguntou os seus nomes. Nós somos os filhos de Lir, gritaram. A nossa madrasta lançou sobre nós uma cruel maldição, como todos podem ver, e esta não pode ser levantada até ao casamento de Lairgncn e Deoch.

Os cisnes cantaram as suas selvagens e míseras baladas. Lir e os seus acompanhantes choraram e enfureceram-se, até que os cisnes acabaram por voar para longe. Logo a seguir, Lir fez-se a caminho para o palácio de Dearg e contou-lhe a perfídia da sua segunda mulher. Que criatura, perguntou Dearg a Oífa, gostarias menos de ser neste mundo de figuras e formas?

- Bem, repondeu ela, qualquer pessoa odiaria ser transformada em um demônio do ar.

Então, torna-te num deles, disse Dearg, apontando sua varinha para Oifa. O rosto desta tornou-se imediatamente demoníaco e as asas afiladas levaram-na para o ar, para ali ficar como demônio, até ao fim dos tempos.

Os filhos de Lir entoaram as suas canções de pesar aos clãs que habitavam em redor do lago do Olho Vermelho, até acharem que chegara a altura de partir. Enquanto se mantiveram nas margens do lago, Fingula cantou para a gente de Dearg e de Lir:

Faz o bem, Dearg nosso rei,
Tu que dominaste a arte dos druidas!
E faz o bem, nosso pai querido,
Rei Lir da colina de White Field!
Nós vamos partir para viver os nossos últimos dias,
Muito longe das habitações dos homens.
Nadaremos nas mates cheias do Moyle,
Com todas as penas frias e salgadas.
Até esse dia em que Deoch se junte a Lairgnen,
Voemos, meus irmãos, que já tivemos faces coradas;
Do lago do Olho Vermelho partiremos;
Com pesar voaremos para longe dos nossos entes queridos.

Partiram, voando alto pelo céu, a perder de vista, e não descansaram até chegarem a Mooyle, o lençol de água que está entre Erin e Alba. E a gente de Erin ficou tão triste com a partida dos meninos-cisne, que decretou uma lei que proibiu a morte de cisnes.

As crianças encontraram-se, geladas e sozinhas, no meio de uma enorme tempestade. Fingula sugeriu que combinassem um ponto de encontro, para o caso de se perderem na tempestade. Reunir-nos-emos, disse a seus irmãos, no rochedo das Focas.

Ao dizer isto, um relâmpago e um trovão atiraram os filhos de Lir para longe uns dos outros, perdidos na intensa tempestade. Quando finalmente esta amainou, Fingula cantou:

Desejei ter morrido nas bravias águas
Pois as minhas asas transformaram-se em gelo.
Meus três irmãos, voltem de novo
E escondam-se uma vez mais debaixo das minhas asas.
Mas eu sei que isto nunca poderá acontecer
Até que os mortos se levantem das suas sepulturas!

Pôs-se a caminho do rochedo das Focas, e apareceram dois dos seus irmãos, Conn e Fiachra, com as penas pesadas pelo sal que o mar tempestuoso atirara sobre elas. Fingula aconchegou-os debaixo das suas asas. Se, pelo menos, o nosso irmão Aod estivesse aqui conosco, gritou, então estaríamos felizes. Aod chegou com a cabeça e as penas secas e lisas. Fingula cobriu-o com o peito, tendo Conn e Fiachra debaixo de cada uma das asas, e cantou:

As palavras mágicas de uma mulher malvada
Enviaram-nos para os mares setentrionais,
Transformados pela nossa madrasta somos
Formas mágicas de cisnes.
E agora a nossa banheira é a crista da água
Na espuma salgada do rebentar das ondas
E a única cerveja que bebemos durante a festa
E o trago salgado do profundo mar azul.

Um belo dia, um grupo de reluzentes cavalos brancos chegou a galope e as crianças-cisne reconheceram os dois filhos de Dearg. O rei, nosso pai, disseram, e evidentemente, o vosso próprio pai Lir, estão vivos e bem, mas não se sentem felizes desde que voastes do lago do Olho Vermelho. Fingula cantou então os seus destinos:

Esta noite há carne e bebida na corte,
Na corte de Lir há alegria.
Mas o que foi que aconteceu aos filhos de Lir?
As nossas camas são as nossas penas,
A nossa comida é a areia branca,
O nosso vinho é o profundo mar azul.
Debaixo das minhas penas descansam Fiachra e Conn,
Sob as minhas asas nadam no Moyle,
E debaixo do meu peito descansa o querido Aod.
Juntos descansamos na nossa cama de penas.

Os filhos de Dearg regressaram, contaram o que tinham visto e falaram da linda canção que tinham ouvido. As correntes do Moyle levaram os filhos de Lir para a baía de Erris, onde permaneceram até ao dia fadado em que tiveram de regressar à colina de White Field. Encontraram tudo num estado de desolação; só havia urtigas onde, outrora, se erguiam as altas paredes das casas. Por três vezes gritaram a sua dor. Então, Fingula cantou:

Que triste é para mim ver
As casas em ruínas de meu pai.
Houve aqui outrora cães de guarda e cães de caça,
Aqui as mulheres riam com os galantes cavaleiros,
Aqui ouviu-se outrora o entrechocar dos copos
De chifre ou madeira nas festas felizes,
Agora, tudo o que vejo é desolação
Desde que há muito meu pai morreu e partiu.
E nós, seus filhos, vagueamos durante anos,
E sentimos a cruel rajada dos ventos gélidos;
Mas chegou agora o mais cruel de todos os golpes,
Regressar finalmente a uma casa vazia.

Em seguida, os cisnes voaram para as encantadoras ilhas do Oeste. Por essa altura, a profecia da canção de Fingula tornou-se verdadeira. Deoch, a princesa de Munster, prometeu casar com Lairgnen, príncipe de Connaught. Todavia, Deoch não casaria até que o seu príncipe lhe trouxesse os maravilhosos cisnes.

Eairgnen encontrou-os a nadar alegremente no lago das Aves; remou até eles e retirou-lhes as correntes de prata. Num instante, tornaram-se novamente humanos, mas os rapazes tinham crescido e eram agora homens velhos e a jovem Fingula uma velha magra encurvada. Morreram, passada uma hora, e foram deixados a descansar como tinham estado em vida. Fiachra e Conn, um de cada lado de Fingula, e Aod debaixo do seu peito.

Mitologia celta


De modo geral, o termo celta aplica-se aos povos que viveram na Grã-Bretanha e na Europa Ocidental entre 500 a.e.C. e 400 d.e.C.. Eram civilizações da Idade do Ferro, habitantes sobretudo de pequenas aldeias lideradas por chefes guerreiros.
Os celtas da Europa continental não deixaram registo escrito, mas conhecemos seus deuses através dos conquistadores romanos, que estabeleceram elos entre muitas dessas divindades e seus próprios deuses. Por exemplo, o deus do trovão Taranis era o equivalente do Júpiter romano, e várias outras divindades locais eram equiparadas a Marte, Mercúrio e Apolo.
Os povos do País de Gales e da Irlanda também deixaram uma mitologia muito rica e muitas de suas lendas foram escritas durante a Idade Média. A Mitologia Celta pode ser dividida em três subgrupos principais de crenças relacionadas.
* Goidélica - irlandesa e escocesa* Britânica Insular - galesa e da Cornualha* Britânica Continental - Europa continental
É importante manter em mente que a cultura celta (e suas religiões) não são tão contiguas ou homogêneas quanto foram a cultura romana ou grega, por exemplo. Nossos conhecimentos atuais determinam que cada tribo ao longo da vasta área de influência céltica tinha suas próprias divindades. Dos mais de trezentos deuses celtas, poucos efetivamente eram adorados em comum.
Os celtas adoravam um grande número de deuses dos quais sabemos pouco mais que os nomes. Entre eles deusas da natureza como Tailtiu e Macha, e Epona, deusa dos cavalos. Figuras masculinas incluiam deuses associados a uma enorme variedade de coisas, como Goibiniu, o fabricante de cerveja. Havia também Tan Hill, a divindade do Fogo.
Cernunnos (também chamado de Slough Feg, ou na forma latinizada Cornífero) é comprovadamente um dos mitos mais antigos mas do qual muito pouco se sabe. O escritor romano Lucano fez várias menções a deuses celtas como Taranis, Teutates e Esus que, curiosamente, não parecem ter sido amplamente adorados ou relevantes.
Vários deuses eram formas variantes de outros. A deusa galo-romana Epona parece ser uma variante da deusa Rhiannon, adorada em Gales, ou ainda Macha, adorada na região do Ulster. Povos politeístas raramente se importam em manter seus panteões da forma organizada em que os pesquisadores gostariam de encontrar.


Fonte: Wikipédia

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